Eu acredito nos encontros!

sábado, 30 de junho de 2012



Amarelinha 

Tem céu,
tem também inferno.

A pedrinha,
lançada com fé
procura o céu
mas uma geografia perversa (parece que o Coisa-Ruim trama isso)
faz o inferno alargar
e por um largo pequeníssimo
cai o sortilégio
um pouco pra lá de onde deveria.

Aí a gente tem que pular
os pedaços marcados
coisas lindas e desejos gozosos
quedam ao lado.

Há uma pedra,
sim,
que a lançadeira tem por dever de obrigação recuperar.

O poema parece amarelinha
se jogar a palavra uma vez ou duas
longe do céu desejado, encanto não há.



by Silvio Lourenço

quarta-feira, 27 de junho de 2012


Eu queria fazer um poema hoje. 
Talvez para acalmar seu coração. 
Diria ao seu ouvido todas palavras de 
amor e sentiria seu corpo flutuar. 
Poderia encenar os melhores momentos, 
as melhores artes e deixar seu dia mais azul. 
Usaria disfarces domésticos como uma 
cachorrinha implorando carinho. 
Te levaria para uma ilha e contaria todas 
as estrelas do céu. 
Treinaria meu inglês, meu francês e pediria uma pizza. 
Me 'embreagaria' só pra ter coragem. 
Meu poema se desnortearia um tanto, 
mas seria desses pegos no ar. 
Talvez antes de tudo, te daria um 
abraço e ficaria mais do que os esperado. 
Poderia entrar pela porta da frente, 
mas pular a janela é mais divertido. 
Por fim, este poema seria pra você.

by Clarinha


O toque das mãos - na circunferência de carne que guarda
a semente da nossa imortalidade é algo fantástico...
Toco teu rosto,os lábios - quase um orgasmo (quase 
mesmo!)
O cheiro mostra mulher, o clima instala desejo...
mas...
o toque das mãos demonstra algo inusitado, nada erótico,
algo que fere meu desejo tão tímido, uma tolice sem tamanho.
mas...
o natural foi quebrado...
o natural foi cortado...
o natural foi arrancado...


by Fátima Pessoa






Breves raios de Sol cortam a penumbra,
Talvez sonhe ou esteja acordado,
Vislumbro vagamente a tua sombra,
O som dos teus saltos, fico excitado.

Suavemente ao meu ouvido murmuras,
Lentamente despertas os meus sentidos,
Suave toque de seda das negras meias,
Dor de prazer dos teus saltos afiados.

O êxtase do teu cheiro a cabedal,
Roças no meu corpo; cheiro divinal,
Tua pele macia, doces sensações.

De gatas, beijas-me tu devagarinho,
Tua língua quente, doce carinho,
No clímax, uma explosão de emoções.

by Vasco de Sousa

sexta-feira, 22 de junho de 2012





Lépida e leve

em teu labor que, de expressões à míngua,
o verso não descreve...
Lépida e leve,
Guardas, ó língua, em teu labor,
gostos de afago e afagos de sabor.

És tão mansa e macia,
que teu nome a ti mesma acaricia,
que teu nome por ti roça, flexuosamente,
como rítmica serpente,
e se faz menos rudo,
o vocábulo, ao teu contacto de veludo.

Dominadora do desejo humano,
Estatuária da palavra,
ódio, paixão, mentira, desengano,
por ti que incêndio no Universo lavra!...
És o réptil que voa,
o divino pecado
que as asas musicais, às vezes , solta, à toa,
e que a Terra povoa e despovoa,
quando é de seu agrado.

Sol dos ouvidos, sabiá de tato,
ó língua-idéia, ó língua-sensação ,
em que olvido insensato,
em que tolo recato,
te hão deixado o louvor, a exaltação!

- Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!
- Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!
Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de alucinação,
és o elastério da alma... Ó minha louca
língua, do meu Amor penetra a boca,
passa-lhe em todo senso tua mão,
enche-o de mim, deixa-me oca...
- Tenho certeza, minha louca,
de lhe dar a morder em ti meu coração!...

Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...

Língua-lâmina, língua-labareda,
Língua-linfa, coleando, em deslizes de seda...
Força inferia e divina
faz com que o bem e o mal resumas,
língua-cáustica, língua-cocaína,
língua de mel, língua de plumas?...

Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à idéia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...


by Gilka Machada


Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos 
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo 
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves 
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções. 

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.

by Maria do Rosário Pedreira

quinta-feira, 21 de junho de 2012



Um brilho prateado cai de meus olhos
e há uma dor fincada em meu peito
a força do desejo está trançada em meu luar
segurando os pedaços de meu coração,
mas só ouço desculpas e letras de canção

Há um refúgio sequer?
Há um deleite aonde chovem perdas,
há um refrigério aonde acaloram-se danos?
Encontro a mim mesma, mas sem respostas.

Bate à porta minha identidade ferida,
meu ego despetalado em busca de saída.
A noite é sem sentido quando os sonhos fogem
e as estrelas são meu pranto refletido.

Já quis ser ave, astro e nuvem,
almejei o rumo do vento e a voz da brisa,
almejei a distância e amei,
amei mais do que pensei que fosse possível,
em letras, em ilusões, em versos.

Amei em gritos da alma, em pecado,
em virtudes e em inocência,
jurei aos segundos minha paciência,
perdi meu caminho no retorno…

Agora o abandono…
abandono por mim mesma de meu reflexo,
as dúvidas e um destino sem nexo,
e a incompreensão de quem não tem poesia.

Que me diz poesia?
Quem sou agora enquanto meu ser chora,
por qual vão gotejarei enquanto meu íntimo implora
por respostas no clarear de meu dia?

É como um punhal me atravessando,
uma dor que por sinal já senti outras vezes,
há não muitos meses quando me senti em desamor,
conheço bem essa dor.

Manhã tardia, vida em neblina,
e saudade e mais saudade…
…do que se foi e não tenho mais,
do que jamais tive e ainda anseio,
saudade e medo…

…como se fosse possível ainda andar de mãos dadas
com quem se confia um doce segredo.

by Enluarada


Purificação

a tarde
carregada de chuva
desabou sobre nós
(pobres pássaros exilados dos ninhos)

e tudo era rumor de água brava
tudo submergia
(palavras inertes naufragadas na lama)

a tarde
enxuta da chuva
expõe agora
seus parcos cadáveres
à luz trêmula do ocaso
(e as almas estão limpas)


by Ana Maria G. da Costa


Sim quero…
Quero amar-te ao luar, no meio de estrelas a bailar
Pode ser num leve toque, um roçar de pele, um tocar de alma
Que me traga a certeza, que as fábulas de encantar existem
Que as vontades subsistem
Envoltas em cetim suave, de um branco cristalino
Que me traga as certezas nas cordas de um violino
E me diga, podes rir podes chorar, sonhar, até amar
Ao cair das primeiras chuvas de Março
Eu e tu enlaçados
Embrenhados no cheiro a terra molhada, terra fértil, abençoada
Quero amar-te lá longe onde nos levar aquela estrada
Aquela por onde caminham os desejos, simples e puros
Suaves como os realejos, que levam a musica de terra em terra
Estranha quimera essa, que carrego no coração
De que um dia, um só dia, nessa imensidão
Sentirei o toque da tua mão, o bater do teu coração
Mergulharei de cabeça, nesse mar de sabores
Algo doces semitrincados, os beijos dos namorados
Tu e eu caminharemos enlaçados
Quem sabe, mesmo à beira de uma ravina, não importa
Somos loucos, estamos apaixonados, corremos o risco
Mas vivemos esse exacto momento, como se fosse o primeiro
De uma existência, onde a vida termina a seguir
Penso em ti
Vejo-te a rir, desta minha ilusão desmedida
De que um dia, a tua, a minha vida se juntem numa só guarida.


by Antónia Ruivo

terça-feira, 19 de junho de 2012



Ah! Que beijos eram aqueles...
Sem pressa, demorados,
Ternos, apaixonados,
Inebriantes.

Beijos inesperados,
Quentes, molhados,
Cheios de intenções,
Desejos, paixões.

Beijos que marcavam,
Que pediam, imploravam,
Uma garantia, uma certeza,
Que nunca terminariam.

Mas, sem saber que era o último,
Nossos lábios repetiram o ritual.
Nos entregamos àquele momento
Com a esperança que durasse para sempre.

O derradeiro beijo foi assim,
Mais um instante paradisíaco.
Nada de despedidas tristes,
Sem lágrimas derramadas.

Ainda penso naqueles beijos
Beijos que me enfeitiçavam,
Entorpeciam meu corpo,
Embebiam-me de prazer.

Bons beijos aleatórios eram aqueles...
Anestesia para dias amargurados.
Deixavam o coração suplicante,
Viciado em beijos enamorados.

by Elonir Gonçalves

segunda-feira, 18 de junho de 2012

sábado, 16 de junho de 2012


"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?"

(Carlos Drummond de Andrade)

Inventário


De que sedas se fizeram os teus dedos,
De que marfim as tuas coxas lisas,
De que alturas chegou ao teu andar
A graça de camurça com que pisas.
De que amoras maduras se espremeu
O gosto acidulado do teu seio,
De que Índias o bambu da tua cinta,
O oiro dos teus olhos, donde veio.
A que balanço de onda vais buscar
A linha serpentina dos quadris,
Onde nasce a frescura dessa fonte
Que sai da tua boca quando ris.
De que bosques marinhos se soltou
A folha de coral das tuas portas,
Que perfume te anuncia quando vens
Cercar-me de desejo a horas mortas.


( José Saramago, Os Poemas Possíveis )

sexta-feira, 15 de junho de 2012


Decreta-se:
a alegria mesmo sendo passageira:
é simples.
A mais tênue alegoria que desperta
o adereço do sorriso
ainda tímido:
melancólico:
quase bucólico:
ínfimo a rolar na face levemente faceira:
um tanto azul:
um triz feliz da
manhã com seus femininos aromas sutis:
borboleteados
em fragrância de maçã.


by Guardião de Quimeras

quinta-feira, 14 de junho de 2012


As vezes - o destino não se esquece-
as grades estão abertas,
as almas estão despertas:
às vezes,
quando quanda,
quando os deuses,
de repente
-antes-
a gente
se encontra.


by Guimarães Rosa - Tornamento

terça-feira, 12 de junho de 2012



‎‎'' Meu terno, sagrado, ditoso abraço
 para ilustrar o teu passo.
Inesquecível passo ilustrando meus traços
De poeta do compasso delicioso do abraço
Sim, do abraço, do abraço delicioso abraço.''


 ( Anônimo )


SE EU PUDESSE...


Se eu pudesse deixar algum presente à você, 
deixaria o acesso ao sentimento de amor 
à vida dos seres humanos.
A consciência de aprender tudo que nos foi
ensinado pelo tempo fora, lembraria dos 
erros que foram cometidos, com os sinais 
para que não mais se repetissem.
A capacidade de escolher novos rumos, 
deixaria para você se pudesse, o respeito
à aquilo que é indispensável: além do pão, 
o trabalho, a ação.
E quando tudo mais faltasse para você, eu deixaria,
se pudesse, um segredo: o de buscar no interior de
si mesmo o respeito e a força interior para encontrar a saída.

 by Mahatma Gandhi